Módulo II

--- PARADIGMAS DA INVESTIGAÇÃO EM EDUCAÇÃO ---

O Módulo II decorreu entre os dias 28 de novembro a 9 de Dezembro de 2016.

Ainda que já tivesse referido o assunto "paradigmas" no Módulo I, o Módulo II acentua com mais intensidade esta temática. Falar sobre paradigmas no Módulo I poderia estar incorreto ou menos correto, mas creio que quando se fala sobre investigação os diversos conceitos, abordagens e perspetivas que nela estão inseridas não são completamente estanques, lineares e singulares, ou seja, a investigação é um todo feito de partes, partes essas que acabamos por analisar com mais detalhe e individualidade. No entanto, não significa isso que trabalhem todas com extrema individualidade.

Numa das sessões anotei que existem duas perspetivas de investigação: Científica e Humanística, algumas das suas características individuais foram apontadas por Lincoln e Guba (1985). Como o próprio nome indica a perspetiva científica (outros autores designam por positivismo, mas a base das características são as mesmas) tem um cariz muito forte ligado ao conhecimento científico e à ciência, dando predominância a fatores e fatos observáveis, à racionalidade e objetividade, assumindo (logo à partida) que o principal objetivo é aumentar o conhecimento científico. Ao passo que a perspetiva humanista (outros autores designam por relativismo, mas a base das características são as mesmas) vai ao encontro de uma perspetiva mais naturalista, dando ênfase às representações dos indivíduos, à experiência de vida dos mesmos, aos pontos de vista e opiniões dos investigados, assumindo como objetivo principal a compreensão de fenómenos reais.

Portanto, até as perspetivas variam: cabe ao investigador decidir como pretende olhar a sua investigação, como pretende guiar a sua problemática, decidir o rigor e natureza da sua investigação. O mesmo acontece com os paradigmas que decidem escolher, essencialmente, o paradigma corresponde à referência que o investigador utilizará para definir a metodologia da investigação em causa.

Existem variados paradigmas e existe também em torno dele muita polémica, discórdia e discussão entre os demais investigadores das diversas áreas. No entanto, e segundo Latorre et al., 1996; Bisquerra, 1989; Morin, 1983 (In, Coutinho, 2011) na área das Ciências Sociais e Humanas tende a haver um maior consenso nos que são os três grandes paradigmas fulcrais para estudar estas ciências mais específicas - O paradigma quantitativo (ou positivista); O paradigma qualitativo (ou interpretativo); O paradigma crítico (ou emancipatório).

Em síntese e com a ideia que fiquei baseada nas sessões e nos textos analisados o paradigma quantitativo é em grande parte baseado na observação, por isso, acaba por utilizar a metodologia experimental e generalizada. Tem como objetivos perceber e conhecer a essência dos fenómenos, dos momentos, das situações e pretende prever e controlar essas situações. Antes dos investigadores partirem para a investigação em si por trás já existe uma grande teoria, portanto, a teoria tem um papel crucial neste paradigma, ou seja, neste caso os investigadores aproveitam-se da prática para comprovar a teoria, sendo que o conhecimento que vão obtendo tem de ser questionado por hipóteses e é comprovado estatisticamente.

De acordo com o paradigma qualitativo este assume uma posição mais relativa e subjetiva. Apresentando como principais objetivos conhecer o mundo pessoal dos indivíduos, assim como, os demais significados que os mesmos atribuem em diversas situações e contextos, desta forma o investigador pretende conhecer o ponto de vista dos os sujeitos, obrigando-se assim a integrar-se nos seus próprios contextos e ambientes. Ora, neste paradigma há um peso significativo no conhecimento das diversas realidades, ou seja, essas realidades são "fabricadas" através da construção social, mental e das experiências vividas pelos indivíduos, pondo os investigadores a colocarem-se na posição dos investigados.

Por último, o paradigma crítico, que responde aos fracassos ou pontos menos positivos dos dois paradigmas acima referidos, enquadra-se, portanto, numa abordagem mais crítica e revolucionária, neste sentido este paradigma emancipatório pretende mudar realidades em prol do melhor de um determinado grupo social, conhecendo e compreendo essas mesmas realidades, fazendo justiça à parte teórica e prática de uma investigação, isto é, este paradigma une estas duas metodologias, uma vertente mais teórica e uma vertente mais prática, para além disso pretende proporcionar aos indivíduos conhecimentos, valorizando sempre o seus contextos.

Algo bastante interessante também que acabei por ler e que vai, em certo ponto de encontro à perspetiva crítica, quando pretendem conhecer para mudar, é a importância de avaliar a qualidade de uma investigação. Segundo Guba e Lincoln (1994, In, João Amado, 2013) existem três critérios cruciais a ter em conta na qualidade de uma investigação:

  • Fazer uma contextualização histórica, socioeconómica e cultural da situação a ser estudada;
  • Fazer uma contextualização dos preconceitos existentes nessa situação;
  • Prever e estimular a mudança dessa situação, ou seja, prever a transformação de uma determinada ação (e é este terceiro critério que vai de encontro ao paradigma crítico, pois é o único que pretende alcançar a mudança, que pretende transformar).

Não posso deixar de terminar a minha síntese frisando algo que me deixou a pensar após a leitura de uma citação: Habermas (1974, In Coutinho, 2013, p.19) "os diferentes paradigmas da investigação estão sempre ligados e dependentes determinados interesses sociais" referindo também que apenas as Ciências Exatas obrigam a instrumentos mais teóricos, técnicos e instrumentais, devido ao seu cariz rigoroso, científico e objetivo. No caso das Ciências Sociais e Humanas quase por necessidade têm de abranger mais do que uma abordagem ou um paradigma, tendo em conta as especificidades, características e objetivos de cada um, ou seja, nestas Ciências é necessário que os paradigmas se toquem e interliguem.

Referências bibliográficas:
Amado, J. (2013). Manual de Investigação Qualitativa em Educação. 1.ª Parte - Fundamentos da Investigação Qualitativa em Educação. (pp. 11 - 60). Imprensa da Universidade de Coimbra.
Coutinho, C. (2011). Paradigmas, Metodologias e Métodos de Investigação. In: Metodologias de Investigação em Ciências Sociais e Humanas. (p.9-21). Lisboa. Almedina.

Personal Learning Environments | Susana Brilhante | 2016
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